Voo ao Solo
Voo solitário
Essa crÃtica faz parte do registro do XVII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga. Clique aqui e confira a cobertura na Ãntegra.
Fotos: MaurÃcio Alcântara
Um monólogo de uma atriz com texto de sua própria autoria, sobre solidão, relacionamentos e crises pessoais. Sempre tenho receio de ver espetáculos em que a dramaturgia é individual e o autor está ali materializando seu texto em cena – seja como ator, seja como encenador. Não que haja qualquer problema a priori, mas tendo a achar que perde-se um ponto de vista ao encenar a obra, reduz-se o conflito de ideias e a multiplicidade de vozes na construção do espetáculo.
Ao longo de toda a apresentaqção, a única pergunta que não me saÃa da cabeça era qual era o objetivo daquela montagem. Que troca aqueles episódios sobre amor, crises pessoais e solidão propunham com o público que estava ali presente, compartilhando daquela narrativa que parte de um ponto de vista individual e que nunca se coletiviza – descobrindo aquela personagem que fala de si, que expõe a um público desde os sentimentos mais dolorosos até os detalhes mais superficiais?
Durante o diálogo que ocorreu na sala do mosteiro na manhã seguinte, essa dúvida permaneceu. A InvisÃvel Companhia de Teatro introduziu o debate dizendo que o espetáculo fora concebido “para viajar, pra caber dentro de uma malaâ€, além de ser um espetáculo “para trabalhar com o trabalho de atorâ€. Os crÃticos convidados – Armindo Bião, Tiago Fortes e Zeca Ligiero – propuseram soluções e leituras formais (no sentido de interferirem somente na forma do espetáculo para que ele ‘funcione’ melhor – como trabalhar com outro registro de interpretação ou trabalhar de outra forma as entradas e saÃdas de cena) – sem que, neste debate, surgissem discussões acerca do diálogo buscado com o público, ou ainda, do porquê do público estar ali compartilhando daquela superexposição de uma personagem que fala de si para o mundo, mas sem revelar ao mundo algo com qualquer perspectiva minimamente coletiva. Chega-se, inclusive, a sugerir uma “forma épica†para a encenação, propondo um distanciamento maior da atriz com a personagem/narrativa, ou a propor uma dinâmica em que a atriz brinque mais com o texto e com a cena – mas tudo permanece em torno da forma, sempre numa busca de “como contar melhor a história dessa personagemâ€, sem questionar a potência daquele expurgo de sensações e vivências sendo apresentado a um teatro cheio.
Não, não vou entrar na mesma onda de comentar sobre a forma do espetáculo para não assumir uma posição normativa, pra que essa crÃtica não fique com cara dos textos de uma avó que eu conheço e que é bárbara.
No fim das contas, a informação que mais me chamou atenção no debate não surgiu ao discutir-se a estrutura formal do espetáculo, mas enquanto o grupo revelava sua produção, a trajetória do espetáculo até aquele momento. Ao dizerem se tratar da 11a apresentação da peça – número que não é maior “por não haver público suficiente em Alagoas para que o espetáculo tenha uma temporada mais longa” (logo, com mais trocas entre público e artistas), meus pensamentos que buscavam por um aspecto mais coletivo naquela obra encontravam um possÃvel norte para além da história daquela personagem que fazia do palco seu divã de terapia. No entanto, divido-me entre o sentimento de urgência de um teatro que busca seu público, e a sensação de ver um teatro sem público por não saber sequer a quem é endereçado – e, por consequência, público nenhum enxerga naquela peça um ponto de identificação e de diálogo.
324 luzes diferentes acesas ao mesmo tempo
O espetáculo foi assistido no dia 4 de setembro de 2010, às 21h30, no Teatrinho Rachel de Queiroz, Guaramiranga-CE, como parte do XVII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, com entrada gratuita por meio da credencial de imprensa do festival.
Outras crÃticas do Festival de Guaramiranga:
– Simplesmente Eu, Clarice Lispector
– Cacuete – A incrÃvel performance de crendices (em breve)
– Mostra Guaramiranga Em Cena (em breve)
Caro MaurÃcio, desculpe a curiosidade, mas você viu Pai & Filho? Não sabia que a bacante estaria por lá. Em 2008 fiquei devendo um papo mais agudo ao outro MaurÃcio, mas não foi possÃvel. Silenciosamente estou sempre por aqui. Saudações.
Oi Marcelo,
Não vi, não. Peguei só os quatro primeiros dias do festival, infelizmente. Agora, imagino que o outro MaurÃcio que você comenta seja o FabrÃcio, é isso? hehehe
Abraço.
É piada antiga. Ele (o FabrÃcio) fez uma crÃtica em forma de diálogo de um espetáculo que dirigi onde não se conseguia identificar quem era o crÃtico e quem era o interlocutor, por isso o trocadilho, enfim. Pena que você não viu, coincidentemente, eu estava no festival com dois espetáculos, Pai & Filho, com minha cia. e o próprio Deus Danado que esteve em SP em 2008. Também não cobriram o FENTEPP, (estivemos por lá com P & F) o que faz que o nosso papo tenha que ser adiado para a próxima oportunidade, já que dos espetáculos que você cobriu acho que só consegui ver Cacuete. Mas estamos por aqui.
Abraços!
Oi Marcelo
Desculpe não ter te respondido aquela crÃtica.
Nosso sistema de comentários deu pau durante um tempo e acabei me desorganizando.
Podendo ver Deus Danado de novo, vai ser ótimo conversar contigo.
Valeu pela retorno à Bacante.
Abraço