Manifestação Dia do Teatro 2008
Dia de quê?
Dia 27 de março é Dia do Teatro desde 1961, quando foi criado por um instituto da UNESCO (quem disse que a ONU não faz nada?). O pior problema da idéia é que está no mês errado. Apesar de existir por aà muita “gente de teatro” e seus simpatizantes, fica difÃcil fazer frente ao número de mulheres (8 de março, Dia Internacional da Mulher) e, pior, ao dos consumidores. Isso mesmo! Como diria o poeta, “chora, disfarça e chora” porque o teatro que não quer ser mercadoria divide este famigerado mês pós-folia-carnavalesca com nada mais nada menos que O Dia do Consumidor, linda idéia daquele ex-presidente estadunidense que levou um tiro na cabeça, lembra?
Mesmo com tantos contratempos – inclua-se aà a chuva ou ameaça dela (em São Paulo, a ameaça sempre basta) – havia cerca de 70 pessoas no começo da festança de comemoração/protesto organizada pelo Redemoinho. Isso segundo o FabrÃcio, porque segundo a PM, eram 22,5 pessoas.
Brincadeiras à parte, como já era de se esperar, não foi possÃvel lotar a Praça do Patriarca na manhã de uma quinta-feira, pois, como diriam as avós racistas: quinta-feira é dia de branco. Foi com caras pintadas de branco e narizes vermelhos de modelos variados que os atores mais sérios da manifestação deram inÃcio ao evento-brincadeira-encontro-festa-palhaçada por meio de uma Palhaceata. Afinal, era também Dia Nacional do Circo, mais um triste concorrente do consumismo – no mês eu quero dizer. Palhaceata, dizem pelos cotovelos, rolou também lá em Uberlândia. Já em Campinas, no Barracão, lugar onde os palhaços são mais sérios, não teve essa bagunça. Só debate mesmo.
Lá pela hora do almoço, como “ninguém é de ferro”, “saco vazio não pára em pé”, “de mal com o patrão (Rouanet) de bem com o caldeirão”, o lugar tava semi-deserto, enquanto os restaurantes e lanchonetes estavam mais palhaçais do que nunca. A coisa começou a bombar mesmo no fim da tarde, quando vagabundos e trabalhadores se uniram, ao som do Ilú Oba de Mim, um grupo só de mulheres que tá em todas, sempre fazendo barulho.
Dali para a prefeitura, gritando bem alto pra ver se o Sr. Prefeito ouve ou, na melhor da hipóteses, fica surdo e se aposenta. Da prefeitura para o Teatro Municipal, para reafirmar a presença no teatro público nas escadarias e abraçar, com uma imensa faixa preta (Censura? Luto? Buraco negro? Preconceito racial?), todas aquelas paredes douradas. Uma união de muitos coletivos teatrais (desculpe a imprecisão de “muitos”, mas a PM não fez a contagem de grupos, somente de pessoas), das mais diversas regiões, buscando união, força polÃtica, ou quem sabe um papel na próxima peça do seu grupo favorito. A maior parte estava ali apesar de não concordar plenamente com as reivindicações dos organizadores.
“A rua é a casa da mãe Joana!” ou “Quem pode entrar no teatro público?”
Por excelência, o teatro de rua é o mais perto que se chega de um teatro público – se entendermos isso como uma maneira de promover arte feita com compromisso (eu ia escrever amor, mas é meio brega, né?) e deixar que a galera toda tenha mais oportunidades de experienciar o contato com a arte (galera toda = cidadão, incluindo os próprios criadores). Na rua, o próprio processo de criação está ali, aberto. Em todo tipo de teatro, claro, pois as cenas nunca estão protegidas pela telona nem pela telinha, mas na rua, sobretudo, porque se pode sentir tudo em volta, porque se pode assistir com cara de bobo a empolgação com que moradores de rua, sobretudo crianças, presenciam aqueles minutos de leveza, riso e um contato mais humano e polÃtico com outras criaturas.
Chega a hora de falar do Rafa. O Rafa que quase desistiu de falar JuliEne, de tanto JuliAne que ele arriscou. Muleque, sei lá quantos anos, até porque o rosto já tava meio maltratado por tudo que ele deve ter vivido. Não sei quem ele é, o nome da mãe dele, nem vou pleitear aqui uma bolsa de estudos no Célia Helena, mas vou falar dele porque, muito mais do que qualquer ator/diretor/deputado, o menino me impressionou e emocionou ao levar alegria pro movimento. E alegria importa muito, inclusive em movimentos polÃticos. EnvolvidÃssimo com bonecos, máscaras e, principalmente instrumentos do grupo Ventoforte (cujos integrantes foram todos munidos de muito adereços pra passeata), ele batucou do começo ao fim e ainda posou pra foto mandando beijo. Não tô mostrando aqui a Fauna do centro de São Paulo. Tô mostrando aqui gente, gente que gosta de arte, gente que é “de teatro” sem saber que é e, por isso até, sem querer provar pra ninguém que é. Antes de ir embora, o Rafael pegou umas dicas de peças em cartaz nas praças do centro. Será que ele iria a outro espaço assistir um espetáculo que não fosse uma praça? Provavelmente não e posso elencar aqui algumas motivações, excluindo de antemão – e por razões óbvias – a possibilidade de ele não gostar.
1. Se precisar de transporte já era. Caro e chato, usar o transporte público em São Paulo não é das melhores opções a se fizer num dia em que você pode ficar deitado na praça vendo as nuvens passarem.
2. Comportamento ou regras de convivência. Nossa sociedade tem a mania horrorosa e cruel de encaixar todo mundo na forma. Pra quem tá fora da regra, sobram poucas opções: nem entra na peça, é desprezado ou é expulso. O teatro é bom exemplo disso, mundinho fechado de e para “especialistas”. Não é à toa que a primeira tática pra desqualificar qualquer reparo que a Bacante propõe para as montagens é a tática de desqualificar o autor, escarafuçando pra saber se ele é “gente de teatro” ou não. Não raro nos perguntam: “de que forma vocês são?”. Afinal, queremos ou não queremos deixar que todos venham, vejam, pensem, falem de teatro?
3. Ingresso. Polêmica esquisita essa. Queremos fazer um teatro público, com dinheiro público, mas queremos também o direito de cobrar ingressos no valor que bem entendermos. Parece justo? Nem precisa responder. O assunto nem se discute nesse meio.
Coro harmônico filantrópico de gritos sincronizados
GRITAR é uma delÃcia. Dá uma sensação de liberdade, poder, grandeza… Talvez muitos aparentes participantes da passeata sejam simplesmente passantes que aproveitaram o privilégio do desabafo apoiado pelo coletivo. No trabalho pega mal gritar, no teatro pega mal desafinar (menos se você for palhaço). Na manifestação pode tudo. Assine você também o ao-lado-assinado pelo reconhecimento da manifestação como expressão artÃstica e, ainda, como tratamento psicológico (efeitos psiquiátricos ainda estão sendo avaliados, mas também são prováveis.)
A posologia pode ser feita em casa, olha que beleza. Anote aà os versos e depois grite. Cuidado com os vizinhos.
“Quem somos nós? Somos o teatro público!” (mesmo que você esteja sozinho, use o plural à vontade. Isso, inclusive, incentiva outros necessitados a cantarem com você e assim você estará realizando uma boa ação.)
“Acorda Prefeitura! Lei de fomento é modelo de cultura!” (neste caso, vemos um hino versátil, cuja primeira parte pode ser usada nas mais diversas ocasiões de terapia coletiva municipal.)
“Ô Rouanet, cadê você? Eu tô aqui, tô com os artistas da TV!”
Boa sorte. Se não der certo, tente administrar aliado ao Lexotan.
Pedir dinheiro pra quem?
Em tese, falávamos ali (gritávamos, se preferir) contra a Lei Rouanet (tipassim, chutávamos cachorro morto, mas com força e sem dó), considerando a contradição de tirar as decisões de investimentos culturais das mãos do Estado (e por extensão do governo eleito) e entregá-lo a empresas que decidam, por pura boa vontade, deixar de contribuir para o governo e, em vez disso, fazer propaganda de graça. Claro que, no palanque, discussões não se aprofundam, apenas se manifestam para gerar mais discussões, unir mais, dispensar mais pessoas do uso de antidepressivos etc. No entanto, em nenhum momento que presenciei, falou-se da tal da mudança na Lei de Fomento do MunicÃpio de São Paulo, parte mais polêmica da reivindicação que, para alguns representa regresso, para outros, quase uma evolução natural. Fugir do tema talvez tenha sido um modo de evitar desunião num momento que só faz sentido se houver multidão e unanimidade. Mas, certamente, isso não contribuiu para uma conclusão mais legÃtima. A idéia da criação das companhias públicas, entre outras, nem deu as caras. Se você está curioso, pode saber o que pensa o pessoal do Redemoinho no site. Também dá pra participar das reuniões de discussão da Cooperativa – o que não tem efeito garantido, mas pode, de repente, dar certo. Claro que seria melhor que os presentes no movimento tivessem clareza sobre objetivos e debates naquele momento, sem precisar acessar a Internet depois. (Nada contra a Internet depois).
Público de c… é r…
A noite longa terminou com a participação do filósofo Paulo Arantes, cuja caracterÃstica das falas tem sido abrir janelas e possibilidades, e tornar as temáticas mais complexas e aprofundadas. No entanto, esse jeitinho de ser do moço, neste caso, resultou na desconstrução de quase todos os conceitos utilizados no evento. Ao perguntar “o que é público? O que se sabe desse conceito no Brasil?” e aprofundar-se na questão da nossa dificuldade em construir o público, desvinculando-o do privado, Paulo deixou a maior parte das pessoas envergonhadas e com cara de bobas. Isso sem contar os que não entenderam e os que estavam dormindo pesadamente (que não eram poucos). Perguntado se as pessoas “da cultura” (bem mais amplo que “de teatro”, não? Bem, talvez não) deveriam ser bancadas pelo poder público como são os profissionais de educação e saúde, Paulo praticamente ignorou a comparação e explicou, pacientemente, por que não deverÃamos nos basear nem na saúde, nem na educação, e acabou com nossas esperanças sobre ambas. Paulo fala como quem pergunta: “quem são vocês?”. Mas ele não está perguntando no mesmo tom do hino da passeata. Ele provavelmente pergunta para despertar uma reflexão sobre quem queremos ser, de fato. E, certamente, não espera ouvir como resposta uma constatação simplista como: “somos o teatro público”.
Bom dia ,
Estou com o espetaculo Ninguém é de ninguém da obra de Zibia Gaspareto, estou enviando material para que possamos fazer uma parceria onde nós daremos 50% de desc. para todos os leitores em troca da divulgação na sua paginal.
Ninguém é de Ninguém – Espetáculo teatral baseado na obra de Zibia Gasparetto
Produção: Cia. Beleza Pura
Elenco: Vanessa Frias, Marcio Amaral, Marcelo Samtos, Sergio Lélis, marisa Mias Eliana Marques e Viviane Alfano.
Datas: às sextas-feiras às 21h30 e aos sábados às 21h.
Local: Teatro Vida & Consciência São Paulo (Rua Salvador Simões 444, Ipiranga, São Paulo). Telefone: (011) 5063-2150.
Duração: 90 minutos.
Classificação: 14 anos.
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) e R$ 30,00 (meia).
Bilheteria do Teatro: aberta de segunda a sexta das 14h às 22h e aos sábados das 10h às 15h. Os ingressos podem ser pagos por meio de depósito bancário e cartão Visa (pelo call center) ou, nas bilheterias, com os cartões Mastercard, Diners e Rede Shop.
desde já agradeço
Vanessa Frias
Produtora
http://www.ninguemedeninguem.com