A Margem

Críticas   |       |    2 de agosto de 2009    |    1 comentários

Como rir do que há de mais podre sendo o que há de mais podre

Fotos: Paulo Magri

a margem Paulo magri (1)

Em In on it, lá pelas tantas, surge uma fala meio perdida de um personagem que vomita aqueles dados que todo mundo um dia já ouviu, sentiu-se chocado e depois esqueceu. Algo como “20% da população detém 80% da riqueza do mundo”, ou, como acabei de encontrar perguntando pro Google, “A cada 3,5 segundos um ser humano morre de fome”. É estranho como, apesar de tão alarmantes, estes números são pouco capazes de nos dar qualquer noção ou nos mobilizar para alguma ação – até porque ação está vinculada a noção.

Não, eu não errei de peça. Estou mesmo escrevendo sobre A Margem, uma peça que dedica toda sua elaboração criativa (gestos, figurinos, iluminação, maquiagem e os outros elementos que te vierem à cabeça) ao tema dos limites da miséria humana, em vez de dedicar duas falas de uma montagem para dar alguns dos números dela. Não tô julgando se uma postura é melhor ou pior do que outra, até porque, colocar os números fora de contexto pode servir justamente para mostrar a falta de sentido deles ou a ínfima reação que geram. No entanto, é fato que as imagens de A Margem ficam por muito mais tempo com quem assiste a peça do que os números de In on it – que talvez nem pretendessem ficar na cabeça de ninguém. Não posso dizer que as ditas imagens tenham força para mobilizar qualquer ação, até porque isso é subjetivo (aeeeeeeeeeee. Usando o conceito do festival), mas posso dizer que são radicalizadas e conduzidas à frágil e potente fronteira entre trágico e cômico.

a margem Paulo magri

No início, é triste rir de dois maltrapilhos, sujos e famintos, fumando com desespero a última pontinha de cigarro de maconha. A coceira no pé, as brigas, as cachaças. No entanto, logo eles começam a reinventar aquele universo e radicalizar as propostas no sentido de fazer piada com tudo o que estiver à mão, a despeito do nojo da platéia e de quem deseje alguma verossimilhança com a vida na rua ou coisa assim. O que entra em cena são os jogos buscando dar novos significados aos elementos mais característicos da miséria.

E dá-lhe TV iluminando a cena, cobertor transformado em manto, qualquer treco transformado em coroa e, de repente, uma estátua da liberdade! Aparece também uma espécie de Bumba Meu Boi esquisito, além de muitas outras transformações feitas com lixo. Eis que, depois de gargalhadas, tapas, narração de gol e coçadinhas no pé, aparece um projetor e a brincadeira ingênua e simples com as sombras ganha todo o fundo da cena. Quando estava prestes a perguntar, cheia de preconceitos: “porra, que miseráveis são esse que têm TV, alegria e projetor?”, os dois pseudo-mendigos se deitam e começam a assistir Charles Chaplin. Aí eu penso: “ahhhhhhh” e bato palmas, grata por terem nos lembrado que há muitas maneiras de estar à margem.

4 goles de cachaça no pé pra curar a frieira

'1 comentário para “A Margem”'
  1. Jester disse:

    Muita preocupae7e3o pela ptlhenieira do Gaspar. d3 Homem ve1 e0s coisas grossas. Aos sardos, e0s ratas, e0s ne1degas, e0s mamas. Atire-se a estes elementos homem.

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