Batata!
Morre comigo?
Fotos: Danilo Vieira
Quando você sai de casa para ir a uma peça com texto de Nelson Rodrigues sem ter lido nada sobre a proposta de encenação, quais as imagens que primeiro lhe vêm à cabeça? Maitê Proença com roupas provocantes a la anos 1960 entrando “no lotação� Moços de bigodinho charmoso? Cornos mansos e violentos? Viúvas alegres e moçoilas “engraçadinhas� Frases de efeito? Sotaque carioca? Tapa na cara e sangue de mentira? Uma batata num espeto e um copo de água mineral com veneno?
Batata!, montagem do Dimenti Produções Culturais, grupo de Salvador que se apresentou no FIT São José do Rio Preto de 2009, tem um pouquinho de tudo isso. Quer dizer, não tem a Maitê. Por enquanto. Mas, em compensação, tem dois elementos a mais: ironia e mistura.
A ironia está presente desde o princÃpio, desde o posicionamento do grupo, a partir do descompromisso – e que isso não soe como irresponsabilidade – de tomar Nelson, rir dele, bagunçá-lo, misturá-lo, para só depois devolvê-lo ao palco, agora de maneira crÃtica. Não, não é ainda a esperada “atualização†de Nelson, até porque, como o tÃtulo insinua, as expressões do nÃvel “morre comigo?†continuam lá, firmes e fortes, levando o nosso imaginário pra romances de outra época – aquela em que nossos avós se conheceram na praça – e, com isso, nos distanciando da cena apresentada.
No entanto, a escolha temática do grupo mostra uma intenção de valorizar o que, na obra, apesar dos “espeto!†e dos “batata!â€, pode parecer atemporal: a relação próxima entre amor e morte. Num certo momento do vÃdeo abaixo, o próprio Nelson diz, sobre a morte: “Otto Lara Resende diz que o homem é triste porque morre. Eu digo: “Não! O homem é triste porque vive!â€
No entanto, a morte na obra do dramaturgo é excessivamente trágica – e talvez por isso mesmo já irônica por si só – cheia de juras melosas de amor e bastante sangue. A ironia do grupo aparece então, ao evidenciar o sangue falso botando catchup no pulso à s vistas do público e fazendo um bingo de palavras nas situações que sempre se repetem, do tipo: “homemâ€, “mulherâ€, “morteâ€, “amorâ€, “gordaâ€. Não são essas palavras, mas poderiam ser. As falas que soariam completamente inverossÃmeis continuam soando completamente inverossÃmeis (como era no A Vida como ela é, agora e sempre), mas aqui sem qualquer intenção de parecerem verdade – bem semelhante, nesse ponto, a Cachorro!, que vi no FIT 2008. Em Batata!, as falas são hiper-articuladas em alguns momentos, gritadas em outros, jogadas pro público a partir das posições mais imprevisÃveis e que, a priori, não comunicam nada diretamente, apenas estranham o cenário clichê da casinha de classe média, da caminha do casal, da pia cheia de louça na cozinha… e terminam por abolir isso e nos tirar do conforto de já conhecer tudo o que virá.
Para reforçar a relação “amor e morteâ€, é que o grupo recorre ao que eu chamei de mistura. Vários tipos de amor (a maioria imoral, é verdade), vários contextos, vários históricos e a morte sempre como fim. Essa diversidade compõe-se, neste caso, a partir dos textos de dramaturgos baianos contemporâneos que se inspiraram no universo de Nelson. E com textos recortados, alterados, interrompidos no meio e depois retomados no meio da cena seguinte, é quase impossÃvel dizer se um tal trecho de fala estava ou não no Nelson original ou se lá não havia algo muito semelhante, mas com um ou outro termo.
Mistura e ironia resultam numa montagem em que reconhecemos Nelson Rodrigues, mas apesar disso nos surpreendemos a cada cena com elementos estranhos, tais como o vidro do catchup, um globo de luz, flores de tecido ou lousas e giz. Quanto à comprovação ou não da tese de proximidade entre amor e morte, pensei em dar minha opinião. Mas achei melhor deixar a tarefa para neurologistas, juristas e blogueiros em geral.
3 flores de plástico não morrem. Ah, não, eram copos de plástico. E as flores eram de tecido. Enfim.
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