Carmen Funebre

Críticas   |       |    15 de julho de 2008    |    0 comentários

Uma outra Europa

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Fotos: Maurício Alcântara

Num breve encontro no Não-Lugar (a baladinha-cabaré do Festival de Rio Preto), Jorge Vermelho, diretor e curador do festival, comentava que para a abertura desta edição do FIT a proposta era trazer um espetáculo que tivesse apelo popular mas que, ao mesmo tempo, não fosse exatamente algo alegrinho e saltitante só por ser de rua. Por isso a escolha de Carmen Funebre, da companhia Teatr Biuro Podróży, que vi dois dias depois numa versão bem menos disputada do que a abertura (que segundo a organização teve mais de 5 mil pessoas).

O clima fantasmagórico da montagem surge desde a primeira cena, em que a platéia é surpreendida por gigantescos soldados mascarados, em pernas de pau, que vinham de longe, invadiam o espaço cênico e, com chicotes, forçavam os demais atores, escondidos entre a platéia, a entrar em cena. Nesta mesma linguagem, segue a narrativa que, em quarenta minutos, traduz a brutalidade da guerra através de metáforas simples e poéticas, mas que não deixam, em momento algum, de serem violentas.

Todas as simbologias que seriam inicialmente inspiradas na guerra da Bósnia podem ser facilmente adaptáveis/interpretáveis para praticamente qualquer conflito no planeta, uma vez que o que era encenado não eram fatos históricos, mas conceitos gerais como a opressão dos grandes sobre os pequenos, invasões estrangeiras, a instauração do medo e da opressão física como formas de legitimação do poder… Apesar de não aprofundar nenhum destes conceitos, a peça consegue inspirar tensão (muito graças à música ao vivo embalando a performance dos atores), além de abrir mão do maniqueísmo ao mostrar a fragilidade (sim, contraditória, quem disse que não?) dos agressores.

Nessa rápida, circense e assustadora apresentação, o grupo polonês responde, sinteticamente, a uma pergunta que havia surgido numa conversa há algumas semanas, num coquetel após a apresentação de (mais) um Hamlet, este italiano: quais são, afinal, as angústias que afligem os artistas europeus? Será que todos eles, de todos os países, já superaram os traumas das guerras mundiais, dos conflitos religiosos e étnicos, das disputas políticas que acontecem ainda hoje logo ali no leste europeu, dos imigrantes vindos de todo o planeta e das conseqüências de séculos de colonização por todo o mundo?

A pergunta não acontece por nenhum tipo de sede por teatro político (olha a contradição aí, gente!), mas porque é no mínimo estranho que muito do que nossas curadorias trazem do velho continente carregue muito mais apuro técnico do que questionamentos e provocações artísticas (sejam estas políticas, estéticas ou comportamentais), fazendo parecer que o melhor que se produz na Europa é ilusionismo e deslumbramento visual, numa espécie de belle époque pós-moderna.

4 camisas incendiadas em cena

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