Melodrama

Críticas   |       |    9 de julho de 2007    |    18 comentários

Eu, no seu lugar, teria visto essa peça

Fotos: Divulgação.

Se fosse você, leria só a partir da última frase do próximo parágrafo.

Sou um iniciante na vida. Tem uma frase no filme Finding Forrester, dirigido pelo Gus Van Sant, com o pai do Indiana Jones, Sean Connery, e um neguinho que eu nunca mais vi, enfim, a frase era mais ou menos assim: “Pra você escrever, você tem que começar a escrever. Antes mesmo da organização do texto, comece a escrevê-lo”. Por isso que os meus textos são um caos. Bem, não era desse filme que queria falar. Tem um outro filme, Gênio Indomável, com o matt damon (apesar dele) e com o cara do Sociedade dos Poetas Mortos. Esse cara, um psicólogo, fala pro matt damon, um super-dotado, que por mais inteligente que ele seja, ele não viveu. E viver não se consegue somente lendo.

A Cia. dos Atores tem 19 anos de prática teatral. Na terça-feira passada (exatamente uma semana antes da atualização da Bacante) fui assistir a um espetáculo de repertório deles que tem 12 anos. Quando estrearam Melodrama, faltava pouco mais de 2 meses pra eu apagar 11 velinhas em cima do bolo (eu, se fosse você, pararia de ler o texto aqui). Nessa época, teatro pra mim era algo muito chato, que vez ou outra eu assistia forçado pelo colégio. Curioso notar que muitos rostos revistos na terça-feira, eu só conhecia pelas telas de TV, no tempo em que tinha paciência pra ela.

Muitos dali foram alcovitados para a TV anos depois da primeira montagem (alguns até antes). Não acho que isso seja mera coincidência, nem que esse encontro venha só por conta da pesquisa que o grupo definiu àquele momento. Acho que vem, sim, de uma procura de aproximação com o público, que, analisando a partir dos nossos dias, tem embutida toda a auto-crítica com que esses atores entrarão na telona. Vide o momento em que, como parte da metaconstituição do seu personagem em Gaivota – tema para um conto curto, a atriz Mariana Lima avacalha consigo mesma no vídeo, em cenas de O Rei do Gado, nas quais contracena com Fábio Assunção. Parece que eles anteviam a mediocridade varejando os seus caminhos já no processo de Melodrama.

Certamente foi a obra mais “comestível” das três apresentadas pela Cia. dos Atores no Sesc Pinheiros. (Vale a ressalva de que, na verdade, Gaivota não é da Cia., mas envolve alguns dos atores e o diretor Henrique Diaz) Forma e conteúdo satirizam os meios de comunicação, sem desconstruí-los. Eles percorrem toda a história desse gênero (melodrama) desde o rádio, passando pelo cinema, até as novelas mais atuais. Com fé no taco, em quase todas as cenas dispõem de pouquíssimos elementos cênicos e apostam nos atores para preencher os espaços vazios do imenso palco italiano.

Acho dispensável falar dos acertos dessa linguagem. Tudo funciona a contento. Rimos bastante dos clichês apresentados no palco. Riram mais, e muito mais alto (chega a ser bem incômodo) os amigos dos atores e sobretudo os nostálgicos que viram a peça há alguns anos. Mesmo numa estrutura mais quadrada, a Cia. consegue incorporar o vídeo de forma até mais orgânica que nos espetáculos que viriam nos anos seguintes.

O que considero obrigatório citar é a presença de dois personagens que, estes sim, fazem a obra plena de multiplicidade de sentidos. São um bêbado e um perdidão, se assim posso chamá-lo. O bêbado, que me lembrou o Mário Bortolotto, perambula pelos intervalos de cena vociferando, culpado, clichê, mas inacabado. O perdidão aparece como ruído, como alguém que não entra nas histórias apresentadas no palco, alguém meio sem identidade, sem de onde vem e pra onde vai e por isso também incompleto. Ao iniciar o espetáculo, esses dois personagens brigam sem conseguir se separar, e ao final eles se encontram, mas não conseguem se tornar um só.

Aí está uma indagação do que é o futuro de contar histórias. Fica claro que não há mais possibilidade de acreditar no melodrama, então ele vira piada. As histórias agora (a partir de 1995) serão mais sujas, inacabadas, com excessos. Começo, meio e fim não serão premissa, mas escolhas. Isso requer novos processos de criação, ainda mais criatividade e coragem para se recriar. Coragem que poucos grupos têm e que deve ser aplaudida de pé sempre que estiver presente nos trabalhos da Cia. dos Atores.

4 bacantes sentados na platéia.

PS: Tive acesso ao livro comemorativo de 18 anos da Cia. dos Atores. Por isso as resenhas contam com informações privilegiadas. Saiu pela editora Aeroplano (?) e, apesar de mal diagramado, está forrado de imagens do acervo da companhia e textos criticando, dialogando com e falando das montagens. Chama-se na companhia dos atores e foi o melhor jabá que já recebi. Se quiser, posso emprestar. É só me chamar pra uma cerveja (nada é de graça nessa vida).

PPS: Gaivota – tema para um conto curto ainda está em cartaz no Sesc Pinheiros. Apesar do público culturete, vale a pena enfrentar a fila e assistir. Isso se ainda houver ingressos.

'18 comentários para “Melodrama”'
  1. Anonymous disse:

    se seus textos são um caos, então você tem grande poder de organização. a última frase do próximo parágrafo… bem, deixa pra lá. eu não tenho o mesmo poder de organização que você. e você, se fosse eu, não pararia de ler o texto ali. foi a parte mais gostosa para mim. gosto de ler o que você escreve. e, enfim, ser anônima também tem o seu charme. e viva a ´primeira semana do anônimo feliz´ da bacante! 😉

  2. Anonymous disse:

    vamos fazer uma gincana! hahahahha

  3. Anonymous disse:

    epa… como assim “deixa pra lá”?
    Vale ser anônimo, mas comentário pela metade não vale.
    Obrigado pelos comentários elogiosos.
    Acho doido como o pessoal encontra resenhas mais antigas. Agora não entendi nada desse negócio da gincana. Me explica, que pelo nome eu já gostei.

  4. Anonymous disse:

    ´vamos fazer um filme´. lembra dessa música do legião? sobre a gincana, podia ser do ´anônimo maluco´. ou algo do tipo ´fale agora o que você só teria coragem com um saco na cabeça´. ou quem sabe ´coisas que você sempre pensou, mas nunca teve coragem de dizer sobre algumas peças que já viu´. sei lá. ajuda aí! vale ser parcial. vale ser apelativo e tendencioso. vale-tudo? vale até elogiar por causa daquele ator gostoso (hahaha). afinal, todo mundo é anônimo mesmo. quem sabe uma coluna onde todos os textos são do autor anônimo. :S

  5. Anonymous disse:

    Essa idéia de falar tudo que se devia falar sempre é ótima. Acho que podemos ter uma semana especial pra isso.
    Quanto ao homem do saco, minha referência é esse aqui http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=4432003999018026376 que é um anônimo bem conhecido da redação da bacante.

  6. Anonymous disse:

    chocada! 😮 por falar em orkut, vocês prometeram no começo que poderíamos encontrar ´bacante´ em muitos lugares… e cadê? propaganda enganosa, né!? vou ao procon. ah é, não dá!… sou anônima. 🙁

  7. Anonymous disse:

    ééééé… promessa é dívida.
    Mas não vai entrar, senão identificamos você e não é esse o intuito.
    Viva a semana do anônimo feliz.

  8. Anonymous disse:

    tem razão. 1×0 pra vocês. (ainda bem que sou anônima). vou aproveitar então. (!) não sei se a gente consegue falar tudo que se devia falar. estava pensando sobre isso esses dias. a gente nunca fala tudo: pra não magoar. pra agradar. porque a gente nunca sabe o dia de amanhã. pra ser politicamente correto. pra ser legal. pra não ser chato. etc. a gente até não mente, mas omite o tempo todo. ou quase. vivemos ´editando´ nossos textos. sei que é necessário. mas eu já odiei peças que todo mundo gostou. e até concordei que era uma boa peça. mas odiei mesmo assim. ai, deve ser difícil fazer crítica. sou muito latina pra isso (?). sobre a lenise, estava pensando hoje (hahahahha). se eu fosse posar nua, gostaria que a vania toledo, o andré de toledo sader, e meu amigo j.estevam me fotografassem. mas daí fiquei pensando na lenise… como será que ela faria isso? gosto do trabalho dela. então talvez ela entre para a minha lista. se ela aceitar o convite, claro. (E VIVA A SEMANA DO ANÔNIMO FELLLIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!!!! 🙂 ps: estou gostando disso.

  9. Anonymous disse:

    jesus, suspende a gincana!
    já temos um anônimo vencedor!
    até distorceu o layout da página de tanta felicidade!

  10. Anonymous disse:

    agora que já te contei uma ficção minha, é sua vez… vai sem medo! afinal, você é anônimo mesmo! 😉 1×1

  11. Anonymous disse:

    Eta, nóis!
    O Maurício é fotógrafo de mão cheia!
    Eu recomendo.
    Podemos fazer a cobertura.
    Agora, revelação minha, só nas resenhas ou numa entrevista especial pra tititi.

  12. Anonymous disse:

    Ei, sem citar nomes!
    Dá pra respeitar os anônimos aqui presentes?

  13. Anonymous disse:

    tudo bem. quem sabe o maurício entre pra minha lista. mas só depois que eu deixar de ser anônima! aaahh… pensei que você iria dizer ´só numa entrevista especial pra ´ti´´. 😉

  14. Anonymous disse:

    ô, companheiro! foi mal. citei um nome sem querer. abraço.

  15. Anonymous disse:

    na verdade, eu quis dizer: ´ô companheiro! foi mau.´ (em todos os sentidos! :p) rsrsrsr.

  16. Marlene disse:

    O director da RTP2 diz que a se9rie je1 he1 cinco anos que ne3o pssaava nem na RTP1 nem na RTP 2 e aposte1mos nacompra e exibie7e3o da 10aa temporada antes de estrearmos a faltima .A justificae7e3o do director da RTP2 ne3o convence: 4 se9ries correspondem a um total de 88 episf3dios, o que, e0 cadeancia de 2 episf3dios por semana, de1 44 semanas (menos de 1 ano!) ate9 se atingir a faltima se9rie. Ne3o quiseram talvez gastar dinheiro com as outras 4 se9ries?!

  17. Normally I’m against killing but this article slaughtered my ignorance.

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